Serei breve e sucinta, porque não houveram sobressaltos nem nada de novo, para além de uma entrevista.
Sim, é verdade, o nosso trabalho foi reconhecido até esse ponto, e não poderíamos ter finalizado da melhor maneira.
Começaram por fotografar todo o processo de transformação. Passei rapidamente de Rita a mendiga, e isto, no meio da rua...
Pela terceira vez, já é de ficar à vontade. Então seguimos todos juntos, de maneira a que eu me pudesse afastar sem dar nas vistas.
Acabei por ir ter ao mesmo sitio em que estive pela primeira vez.
16h, a Baixa estava cheia como nunca, e os minutos demoravam a passar. E mais uma vez, dei por mim a pensar e repensar em tudo, era a maneira mais natural de manter a minha personagem, e aguentar o tempo necessário.
Senti que apesar de visível, voltei a passar despercebida para muita gente. As emoções e as sensações repetiram-se, mas o nervosismo, desta vez não veio comigo. Esteve somente presente, quando me disseram de surpresa, que era eu quem ia realizar o último dia.
As minhas colegas, falaram de toda a experiência, enquanto eu fui acompanhada pelo fotografo do jornal.
Agi normalmente, como se não me estivesse a aperceber de nada e na minha opinião, correu tudo da melhor maneira.
Assim que acabámos a nossa tarde, ligámos de imediato a todos os professores que nos acompanharam. Eles felicitaram-nos por termos chegado até aqui, e nós não poderíamos estar mais orgulhosas.
O projecto acabou e nós ganhámos sem dúvida uma grande experiência de vida.
Foi de facto difícil, mas o grupo conseguiu atingir todos os objectivos e o reconhecimento merecido.
Desde já, um grande Obrigada a todos!
E em breve daremos noticias quanto ao concurso.
10 dias como tu...
Este blogue foi criado para podermos documentar uma experiência "inovadora" pelo menos para nós. Nós somos: =) Joana =) Ana =) Rita =) Rita . Estamos aqui para vos demonstrar como uma experiência pode alterar uma vida.
sexta-feira, 16 de julho de 2010
quarta-feira, 14 de julho de 2010
9º dia... mendiga Ana
Com sempre e como habitualmente cheguei à Baixa Chiado e encontrei-me com elas.
Primeira pergunta “estás preparada?” e eu a respondi “não, estou com medo”. Mas mesmo assim entrei nos armazéns voltei a ser a mendiga Ana.
Saí e disse que queria ir para um sitio mais calmo, porque estava com bastante medo e nervosa como na primeira vez. Voltei a sentir os olhares das pessoas em mim, realmente eu sentia-me super pequenina com os olhares das pessoas, mas graças a deus hoje o dia foi bem calmo, não ouve percalços. O único susto foi quando de repente me vi rodiada por imensos turistas, a olharem fixamente para mim e a dizer: “coitada!” Mas nada de grave.
Depois mais tarde uma jovem rapariga, passou por mim, olhou, continuou a andar, e voltava a olhar, e depois perguntou se eu estava bem e se precisava de alguma coisa, as perguntas que normalmente as pessoas que se preocupavam e nos abordam perguntam.
Bem esta experiencia para mim foi uma grande experiencia de vida. Chegou a um ponto que só me apetecia desistir, mas pensei nas minhas colegas e no projecto e foi isso que me deu força para seguir com isto em frente.
terça-feira, 13 de julho de 2010
8º dia... Mendiga Rita
Mais um dia que me competia a mim realizar...
Desta vez, confesso que o nervosismo não era tão grande, era maior a pressão de não poder explicar, a todos os olhares que por mim passavam, ou a qualquer abordagem, que o que se sucedia, fazia parte de um projecto, e que a minha vida não era aquilo.
Eu sou uma rapariga, de 15 anos apenas, que por enquanto tem a sorte de não olhar o mundo com tamanhas dificuldades.
Então, e mais uma vez, a Baixa-Chiado, foi o ponto de partida. Saí dos Armazéns, já a desempenhar a minha personagem, mas ainda com um sorriso na cara, porque foi a melhor maneira que encontrei de encarar mais uma manhã destas, e novamente descalça, na apaixonante calçada portuguesa, meti-me a caminho à procura do meu refúgio.
Por sugestão da outra Rita, sentei-me nas mesmas escadas em que a Ana esteve no dia anterior. A rua era de facto muito movimentada, e as primeiras abordagens não tardaram. Pois, mal me sentei, passaram no cimo das escadas dois operários que me saudaram apenas, e pouco tempo depois, passou por mim um senhor, que não andava a mendigar, penso, mas a angariar dinheiro para qualquer coisa, e que teve a preocupação de parar, olhar e saber se estava bem. Com um sorriso, pela preocupação que ele teve, acenei convicta que 'sim'.
Voltei a encostar a cabeça às pernas, e sempre com um sentimento de inferioridade, enquanto ali estava, senti que haviam diferenças nos olhares, daí serem poucas as vezes que era capaz de olhar alguém nos olhos.
Muitas faixas etárias subiram e desceram aquela extensa rua, durante o tempo em que ali estive, tendo mesmo de passar por diante de mim, e cada um com a sua reacção.
Os mais jovens eram quem desta vez mais mostrava pena, pelo facto de terem uma idade mais aproximada da minha e não se imaginarem, sequer, na 'minha situação'. Em relação ao resto das pessoas, e das poucas vezes em que tinha coragem de dar a cara, e levantar a cabeça das pernas, foi mais predominante o sentimento de indiferença, senti que para muitas, passei despercebida, senti que não davam valor ao que de mais importante as rodeia.
Como se a maioria dos sem-abrigo escolhesse um estilo de vida assim. Na minha opinião muitos tiveram a culpa de inicio, mas mais tarde já não teriam como remediar. Mas um caso não são casos, e este projecto está a fazer com que tenhamos uma visão mais aberta e dinâmica de muitas sensações simultâneas, enquanto mendigamos.
Decidi voltar a levantar-me e andar...Andar até um lugar mais calmo, onde pudesse finalizar a minha manhã, optei então pelo Terreiro do Paço.
Durante o meu percurso, o que mais mexeu comigo, foi a nova visão que tive dos outros mendigos que por ali se encontravam. Vi de tudo um pouco, dando agora outro valor ao que muitos fazem para recuperar na vida.
Não me saem da cabeça, as caras com que cada um mostrava o empenho que tinha, na maneira mais original de se destacar para obter ajuda. E sem eu me aperceber, despertaram-se muitas emoções em mim. Queria ajudar, mas não sabia como, não sabia sequer se por eles era destacada, nem sabia se alguém sentia a mesma necessidade que eu, de fazer alguma coisa. Porque no fundo eles não são inferiores, levam apenas uma vida diferente, e quem os inferioriza, somos NÓS!
Nunca levei tão a sério uma caminhada pela capital portuguesa, e nunca vi tanta distinção feita, muitas vezes sem se aperceberem.
Só gostava que todos passassem, um dia apenas, pelas dificuldades de cada um. Um dia ao sol, ou à chuva, com muito ou pouco vento e às vezes, sem ingerir comida ou algum líquido. Porque asseguro, que ninguém vai gostar de ver o mundo de baixo para cima.
Desta vez, confesso que o nervosismo não era tão grande, era maior a pressão de não poder explicar, a todos os olhares que por mim passavam, ou a qualquer abordagem, que o que se sucedia, fazia parte de um projecto, e que a minha vida não era aquilo.
Eu sou uma rapariga, de 15 anos apenas, que por enquanto tem a sorte de não olhar o mundo com tamanhas dificuldades.
Então, e mais uma vez, a Baixa-Chiado, foi o ponto de partida. Saí dos Armazéns, já a desempenhar a minha personagem, mas ainda com um sorriso na cara, porque foi a melhor maneira que encontrei de encarar mais uma manhã destas, e novamente descalça, na apaixonante calçada portuguesa, meti-me a caminho à procura do meu refúgio.
Por sugestão da outra Rita, sentei-me nas mesmas escadas em que a Ana esteve no dia anterior. A rua era de facto muito movimentada, e as primeiras abordagens não tardaram. Pois, mal me sentei, passaram no cimo das escadas dois operários que me saudaram apenas, e pouco tempo depois, passou por mim um senhor, que não andava a mendigar, penso, mas a angariar dinheiro para qualquer coisa, e que teve a preocupação de parar, olhar e saber se estava bem. Com um sorriso, pela preocupação que ele teve, acenei convicta que 'sim'.
Voltei a encostar a cabeça às pernas, e sempre com um sentimento de inferioridade, enquanto ali estava, senti que haviam diferenças nos olhares, daí serem poucas as vezes que era capaz de olhar alguém nos olhos.
Muitas faixas etárias subiram e desceram aquela extensa rua, durante o tempo em que ali estive, tendo mesmo de passar por diante de mim, e cada um com a sua reacção.
Os mais jovens eram quem desta vez mais mostrava pena, pelo facto de terem uma idade mais aproximada da minha e não se imaginarem, sequer, na 'minha situação'. Em relação ao resto das pessoas, e das poucas vezes em que tinha coragem de dar a cara, e levantar a cabeça das pernas, foi mais predominante o sentimento de indiferença, senti que para muitas, passei despercebida, senti que não davam valor ao que de mais importante as rodeia.
Como se a maioria dos sem-abrigo escolhesse um estilo de vida assim. Na minha opinião muitos tiveram a culpa de inicio, mas mais tarde já não teriam como remediar. Mas um caso não são casos, e este projecto está a fazer com que tenhamos uma visão mais aberta e dinâmica de muitas sensações simultâneas, enquanto mendigamos.
Decidi voltar a levantar-me e andar...Andar até um lugar mais calmo, onde pudesse finalizar a minha manhã, optei então pelo Terreiro do Paço.
Durante o meu percurso, o que mais mexeu comigo, foi a nova visão que tive dos outros mendigos que por ali se encontravam. Vi de tudo um pouco, dando agora outro valor ao que muitos fazem para recuperar na vida.
Não me saem da cabeça, as caras com que cada um mostrava o empenho que tinha, na maneira mais original de se destacar para obter ajuda. E sem eu me aperceber, despertaram-se muitas emoções em mim. Queria ajudar, mas não sabia como, não sabia sequer se por eles era destacada, nem sabia se alguém sentia a mesma necessidade que eu, de fazer alguma coisa. Porque no fundo eles não são inferiores, levam apenas uma vida diferente, e quem os inferioriza, somos NÓS!
Nunca levei tão a sério uma caminhada pela capital portuguesa, e nunca vi tanta distinção feita, muitas vezes sem se aperceberem.
Só gostava que todos passassem, um dia apenas, pelas dificuldades de cada um. Um dia ao sol, ou à chuva, com muito ou pouco vento e às vezes, sem ingerir comida ou algum líquido. Porque asseguro, que ninguém vai gostar de ver o mundo de baixo para cima.
segunda-feira, 12 de julho de 2010
7ºdia... Mendiga Ana
Chegada à Baixa: encontro-me com elas, nervosa como no primeiro dia, sempre no sítio do costume.
Entro nos armazéns do chiado como Ana e saio como mendiga, sento-me numas escadas muito escondidas, poucas pessoas passavam por lá...
A Rita disse-me para eu me sentar ao fundo das escadas, para poder ser vista por mais pessoas e para ser mais realista. Fiz o que ela me disse… Sentei-me então ao fundo das escadas e iniciei a representação do meu papel.
Encostada à parede sinto novamente todos os tipos de olhar.
Dirige-se a mim uma senhora que me pergunta se me sentia mal disposta e se precisava de alguma coisa, e eu respondia sempre que não acenando a cabeça.
Passado algum tempo apanhei o meu maior susto. Não tinha visto uma rapariga aproximar-se de mim e assustei-me, ela perguntou se eu estava bem, se alguém me tinha feito mal, se eu queria que ela liga-se para os meus pais, se estava sozinha, onde estavam os meus sapatos, se tinha fome, pedia-me para olhar para ela, acenava sempre com a cabeça que sim ou que não, mas ela sempre a insistir... Eu cheia de medo só a pensar: Rita aparece aqui rápido.
Só que não conseguia fazer nenhum sinal a ela e ela não vinha. Quando a rapariga me diz: “levanta-te, vem comigo até minha casa" perdi a cabeça, só me apetecia chorar e fugir.
Mal ela se levanta faço sinal e peço para irmos embora. Levantei-me e comecei a andar rápido antes que a rapariga voltasse ou viesse atrás de mim.
Perguntei se já havia boas fotografias, porque estava a ser muito complicado continuar. Assim volto a entrar nos armazéns e dirijo-me às casas de banho como mendiga e volto a sair como Ana. Obviamente acabei o dia cheia de medo, mas até que é gratificante.
Entro nos armazéns do chiado como Ana e saio como mendiga, sento-me numas escadas muito escondidas, poucas pessoas passavam por lá...
A Rita disse-me para eu me sentar ao fundo das escadas, para poder ser vista por mais pessoas e para ser mais realista. Fiz o que ela me disse… Sentei-me então ao fundo das escadas e iniciei a representação do meu papel.
Encostada à parede sinto novamente todos os tipos de olhar.
Dirige-se a mim uma senhora que me pergunta se me sentia mal disposta e se precisava de alguma coisa, e eu respondia sempre que não acenando a cabeça.
Passado algum tempo apanhei o meu maior susto. Não tinha visto uma rapariga aproximar-se de mim e assustei-me, ela perguntou se eu estava bem, se alguém me tinha feito mal, se eu queria que ela liga-se para os meus pais, se estava sozinha, onde estavam os meus sapatos, se tinha fome, pedia-me para olhar para ela, acenava sempre com a cabeça que sim ou que não, mas ela sempre a insistir... Eu cheia de medo só a pensar: Rita aparece aqui rápido.
Só que não conseguia fazer nenhum sinal a ela e ela não vinha. Quando a rapariga me diz: “levanta-te, vem comigo até minha casa" perdi a cabeça, só me apetecia chorar e fugir.
Mal ela se levanta faço sinal e peço para irmos embora. Levantei-me e comecei a andar rápido antes que a rapariga voltasse ou viesse atrás de mim.
Perguntei se já havia boas fotografias, porque estava a ser muito complicado continuar. Assim volto a entrar nos armazéns e dirijo-me às casas de banho como mendiga e volto a sair como Ana. Obviamente acabei o dia cheia de medo, mas até que é gratificante.
6º dia... Mendiga Rita
A minha mãe costuma dizer que se mudarmos a nossa atitude para com o mundo o mundo reage e muda para connosco também... Por isso hoje, como já é o meu terceiro dia e já noto alguma habituação a esta actividade, decidi encarar o dia com muito mais positivismo e serenidade.
Entrei nos Armazéns, vesti-me, saí... O costume, mas desta vez não assustada. E não sei se foi o positivismo ou mero acaso mas o dia até correu muito bem!
Sem sobressaltos nem nada parecido, foi só como que estar sozinha... Não precisei de fugir de olhares, nem de palavras desconfortáveis, não tive de desviar a cara, ou esconder-me...
Com o passar dos dias, eu diria que cada vez gosto mais da experiência!
Entrei nos Armazéns, vesti-me, saí... O costume, mas desta vez não assustada. E não sei se foi o positivismo ou mero acaso mas o dia até correu muito bem!
Sem sobressaltos nem nada parecido, foi só como que estar sozinha... Não precisei de fugir de olhares, nem de palavras desconfortáveis, não tive de desviar a cara, ou esconder-me...
Com o passar dos dias, eu diria que cada vez gosto mais da experiência!
quarta-feira, 7 de julho de 2010
5ºdia... mendiga Ana
Mais um dia que começa, a continuação do projecto e o meu primeiro dia como mendiga.Chego à Baixa Chiado um pouco depois da hora combinada, as minhas colegas não estavam no sítio combinado, mando mensagem a uma delas e só me respondem para ir ter à porta do local onde deixamos de ser nós próprias e passamos a ser as mendigas, os armazéns.
Encontramos-nos e lá vou eu… Adaptar a minha personalidade e o meu visual a outra pessoa que não eu. Saio já pronta para encontrar o meu canto, o local onde eu me pudesse sentar e viver a vida na pele de um mendigo.
Saio dos armazéns e começo a descer a rua sem saber para onde ir, como se estivesse perdida, no fundo era como me sentia. Olhava para trás, para elas, para estar mais confiante mas sempre com muito medo.
Saio dos armazéns e começo a descer a rua sem saber para onde ir, como se estivesse perdida, no fundo era como me sentia. Olhava para trás, para elas, para estar mais confiante mas sempre com muito medo.
Ao fundo da rua junto de umas montras encosto-me e sento-me no chão. Começo a sentir olhares de todos os tipos, como pena, indiferença, medo e caridade.
Durante todo este tempo que estive lá sentada, pensei em muitas coisas, como várias experiências de vida porque passei e outras que nunca gostaria de passar, pensamos que por vezes o mundo vai acabar por uma simples dificuldade mas quando passamos realmente dificuldades como uma simples hora como mendigo, aí sim percebemos que infelizmente existem pessoas muito pior que nós.
Ouvimos muitos comentários de adolescentes como de adultos como: “não deve ter calçado”; “coitada”; Mas que não são capazes de questionar “queres ajuda?”. Felizmente ainda existem pessoas com sensibilidade e caridade.
Dirigiu-se a mim um senhor e perguntou: “Estás bem? Queres falar? Precisas de alguma coisa? Eu sou o padre Paulo” e o melhor foi: “Precisas desabafar?”. Só fui capaz de acenar com a cabeça sim ou não, mas sempre escondendo a cara com os cabelos ou no colo, com os braços…
A polícia e os outros mendigos são outro susto para mim… Intimidam-me!
Finalmente o meu dia acabou, correu tudo bem. Foi complicado, chegar aos armazéns voltar a ser a Ana e sentir ainda os olhares e o medo. Mas como primeiro dia gostei…
segunda-feira, 5 de julho de 2010
4º dia... mendiga Rita
E mais uma vez a história repete-se.
O nervoso miudinho toma conta do meu estômago à medida que a hora de mudar de pele se aproxima. Repete-se mais uma vez a nova rotina que criámos para o projecto, entro nos Armazéns do Chiado, mudo de roupa e volto a sair, mas desta vez já muito diferente.
Vinha tão preparada para os olhares de preocupação, que esses hoje mal incomodaram. Hoje o choque foi a discriminação!
A facilidade com que apontam o dedo é absurda. Será possível que estas mentes estejam tão atrofiadas que sejam incapazes de ver que existe um mundo além da sociedade?
Vistos de fora, os padrões pelos quais nos regemos todos os dias, são assustadores! E é simplesmente RIDÍCULO que não ponhamos a mão na consciência e nos apercebamos de que nem tudo são rosas...
O nervoso miudinho toma conta do meu estômago à medida que a hora de mudar de pele se aproxima. Repete-se mais uma vez a nova rotina que criámos para o projecto, entro nos Armazéns do Chiado, mudo de roupa e volto a sair, mas desta vez já muito diferente.
Vinha tão preparada para os olhares de preocupação, que esses hoje mal incomodaram. Hoje o choque foi a discriminação!
A facilidade com que apontam o dedo é absurda. Será possível que estas mentes estejam tão atrofiadas que sejam incapazes de ver que existe um mundo além da sociedade?
Vistos de fora, os padrões pelos quais nos regemos todos os dias, são assustadores! E é simplesmente RIDÍCULO que não ponhamos a mão na consciência e nos apercebamos de que nem tudo são rosas...
sábado, 3 de julho de 2010
3º dia... mendiga Joana
FOSTE VIOLADA?
Foi a coisa mais assustadora que ouvi hoje, mas já lá vamos...
Cheguei à baixa já elas lá estavam à minha espera. Fui vestir-me, entrei uma coisa e sai outra.
Optei por ficar logo na rua dos armazéns do Chiado, hoje é sábado e imensa gente passa por ali, por isso decidi que seria um bom sitio para ficar.
Sentei-me num canto e comecei logo a sentir os olhares das pessoas sobre mim... A pena, a injustiça, as questões... Enfim todo o tipo de emoções que por norma sou capaz de gerir, mas naquele momento e na situação que estava, tudo isso ganhava uma estranha grandeza!
Passaram-se minutos que pareciam horas na rua por onde passo regularmente e que desta vez tinha um tamanho gigante (por incrível que pareça, do chão as pessoas parecem ainda maiores e desinteressadas).
Chegou a altura de mudar de rua... Procurar um beco para poder descontrair respirar fundo... Sai apresada, precisava de descansar a cabeça e o corpo de tantos olhares! Escondi-me perto do "Amo-te Chiado", mas mesmo assim os olhares pareciam estar em todos os cantos.
Recompus-me e lá fui eu! Decidi que o lugar onde queria ficar era a escada que fica perto da saída da Baixa Chiado. Sentei-me e algumas pessoas olharam, mas achei que podia mais... Então deitei-me na escada e passados poucos minutos um rapaz que vinha a descer parou perto de mim, perguntou se queria alguma coisa, se estava bem, se queria alguma coisa. Apenas conseguia responder acenando com a cabeça.
Passam então as pessoas conhecidas. Escondo-me, disfarço, fecho os olhos (tanta coisa me passou pela cabeça quando fechei os olhos).
Abri os olhos e tinha junto de mim uma menina preocupada que me fez imensas perguntas:
"estas bem?"
"precisas de alguma coisa?"
"não te queres sentar e beber um pouco de água?"
"alguém te fez mal?"
"foste violada?"
Respondi que não e sentei-me nas escadas, quando reparei tinha imensas pessoas à minha volta, só consegui levantar-me e correr... Fugi!
Decidi que por hoje e depois das aventuras que tinha passado, eram bom para mim, não ficar mais tempo, por isso passei pelas minhas colegas, entrei nos Armazéns do Chiado e voltei a ser a Joana... Por hoje e como primeira experiência gostei, mas ainda estou a tentar gerir as emoções... Foram tantas e tão confusas, que agora só quero o meu conforto...
Foi a coisa mais assustadora que ouvi hoje, mas já lá vamos...
Cheguei à baixa já elas lá estavam à minha espera. Fui vestir-me, entrei uma coisa e sai outra.
Optei por ficar logo na rua dos armazéns do Chiado, hoje é sábado e imensa gente passa por ali, por isso decidi que seria um bom sitio para ficar.
Sentei-me num canto e comecei logo a sentir os olhares das pessoas sobre mim... A pena, a injustiça, as questões... Enfim todo o tipo de emoções que por norma sou capaz de gerir, mas naquele momento e na situação que estava, tudo isso ganhava uma estranha grandeza!
Passaram-se minutos que pareciam horas na rua por onde passo regularmente e que desta vez tinha um tamanho gigante (por incrível que pareça, do chão as pessoas parecem ainda maiores e desinteressadas).
Chegou a altura de mudar de rua... Procurar um beco para poder descontrair respirar fundo... Sai apresada, precisava de descansar a cabeça e o corpo de tantos olhares! Escondi-me perto do "Amo-te Chiado", mas mesmo assim os olhares pareciam estar em todos os cantos.
Recompus-me e lá fui eu! Decidi que o lugar onde queria ficar era a escada que fica perto da saída da Baixa Chiado. Sentei-me e algumas pessoas olharam, mas achei que podia mais... Então deitei-me na escada e passados poucos minutos um rapaz que vinha a descer parou perto de mim, perguntou se queria alguma coisa, se estava bem, se queria alguma coisa. Apenas conseguia responder acenando com a cabeça.
Passam então as pessoas conhecidas. Escondo-me, disfarço, fecho os olhos (tanta coisa me passou pela cabeça quando fechei os olhos).
Abri os olhos e tinha junto de mim uma menina preocupada que me fez imensas perguntas:
"estas bem?"
"precisas de alguma coisa?"
"não te queres sentar e beber um pouco de água?"
"alguém te fez mal?"
"foste violada?"
Respondi que não e sentei-me nas escadas, quando reparei tinha imensas pessoas à minha volta, só consegui levantar-me e correr... Fugi!
Decidi que por hoje e depois das aventuras que tinha passado, eram bom para mim, não ficar mais tempo, por isso passei pelas minhas colegas, entrei nos Armazéns do Chiado e voltei a ser a Joana... Por hoje e como primeira experiência gostei, mas ainda estou a tentar gerir as emoções... Foram tantas e tão confusas, que agora só quero o meu conforto...
sexta-feira, 2 de julho de 2010
2º dia... mendiga Rita B.
E como explicar o que se passou hoje? A experiência de entrar nos armazéns do chiado na pele de Rita e sair numa pele abandonada e assustada de mendiga foi aterradora. Faltam sem dúvida as palavras!
Saí à rua, e para começar, dirigi-me à rua Augusta talvez por ser mais perto ou por ser das ruas mais badaladas da Baixa... Os olhares eram constantes, a preocupação e a pena predominavam. Só me perguntava o quão chocante seria a minha imagem naquele momento...
Decidimos mudar de local, voltei a sentar-me no chão e apanhei o meu primeiro susto: caras conhecidas. O medo apoderou-se imediatamente, apertei as pernas, tentei esconder-me e nem passados dez minutos tenho turistas à minha volta a perguntar-me se estava bem. Da maneira que estava a minha primeira reacção foi fingir não entender a língua... Só os queria fora dali, a sua preocupação estava a destruir a máscara que coloquei assim que me vesti.
Acabaram por ir embora mas as emoções eram muitas e mais fortes que eu, pelo que se deu uma escapatória infinita de lágrimas. Nem mais um momento! Fui obrigada a retirar-me para uma ruela menos movimentada para respirar e acalmar-me, não havia maneira de elas me deixarem na rua novamente!
Mal me acalmei demonstrei logo vontade de continuar com o projecto e fomos até ao Terreiro do Paço. O ambiente é totalmente diferente, muito mais calmo, menos povoado, pelo que me foi mais fácil de permanecer por ali... Mas chegou a hora de mais uma vez mudarmos de local.
Desta vez escolhi a Praça da Figueira, estava com vontade de continuar, queria mais... Parei mesmo em frente aos bancos onde toda a gente pára por aquela hora. Ali sim tudo à minha volta era pesado e assustador.
Os comerciantes olhavam e comentavam, as pessoas na rua cochichavam acerca da minha idade e do meu estado, perguntava-me se estava bem e insistiam em ligar para os meus pais... Só dizia que não, acenava apenas, novamente faltavam as palavras...
E mesmo no final, ao dirigir-me até aos Armazéns para ir buscar a Rita outra vez, passei por caras mesmo conhecidas... O coração falhou uma batida ao ver que me olhavam, sem se aperceberem de quem era!
Desde a conversa com os turistas que as minhas emoções ficaram balançadas, e mesmo após voltar a ser a Rita, a mania da perseguição apoderou-se...
Agora só com o tempo.
Saí à rua, e para começar, dirigi-me à rua Augusta talvez por ser mais perto ou por ser das ruas mais badaladas da Baixa... Os olhares eram constantes, a preocupação e a pena predominavam. Só me perguntava o quão chocante seria a minha imagem naquele momento...
Decidimos mudar de local, voltei a sentar-me no chão e apanhei o meu primeiro susto: caras conhecidas. O medo apoderou-se imediatamente, apertei as pernas, tentei esconder-me e nem passados dez minutos tenho turistas à minha volta a perguntar-me se estava bem. Da maneira que estava a minha primeira reacção foi fingir não entender a língua... Só os queria fora dali, a sua preocupação estava a destruir a máscara que coloquei assim que me vesti.
Acabaram por ir embora mas as emoções eram muitas e mais fortes que eu, pelo que se deu uma escapatória infinita de lágrimas. Nem mais um momento! Fui obrigada a retirar-me para uma ruela menos movimentada para respirar e acalmar-me, não havia maneira de elas me deixarem na rua novamente!
Mal me acalmei demonstrei logo vontade de continuar com o projecto e fomos até ao Terreiro do Paço. O ambiente é totalmente diferente, muito mais calmo, menos povoado, pelo que me foi mais fácil de permanecer por ali... Mas chegou a hora de mais uma vez mudarmos de local.
Desta vez escolhi a Praça da Figueira, estava com vontade de continuar, queria mais... Parei mesmo em frente aos bancos onde toda a gente pára por aquela hora. Ali sim tudo à minha volta era pesado e assustador.
Os comerciantes olhavam e comentavam, as pessoas na rua cochichavam acerca da minha idade e do meu estado, perguntava-me se estava bem e insistiam em ligar para os meus pais... Só dizia que não, acenava apenas, novamente faltavam as palavras...
E mesmo no final, ao dirigir-me até aos Armazéns para ir buscar a Rita outra vez, passei por caras mesmo conhecidas... O coração falhou uma batida ao ver que me olhavam, sem se aperceberem de quem era!
Desde a conversa com os turistas que as minhas emoções ficaram balançadas, e mesmo após voltar a ser a Rita, a mania da perseguição apoderou-se...
Agora só com o tempo.
Vem ai o segundo dia!
Para todos os que nos seguem... ao fim da tarde irá estar aqui o relato de um novo dia!
Hoje é a mendiga Rita Barros.
Até logo =)
Mendigas
Hoje é a mendiga Rita Barros.
Até logo =)
Mendigas
quinta-feira, 1 de julho de 2010
1ºdia... mendiga Rita
Fui a primeira a chegar à Baixa Chiado, e quanto mais via o tempo a passar, a hora a aproximar-se, os nervos de me expor a quaisquer olhares, eram cada vez maiores.
Elas chegaram, com as máquinas prontas, para fazer a reportagem fotográfica ao acontecimento, e eu...Eu sentia-me como nunca, numa tentativa de me mentalizar rapidamente daquilo por que ia passar, porque de facto ia mesmo acontecer.
Uma experiência inigualável, pela qual jamais pensei que alguma vez poderia vir a passar.
Dirigi-me a um café no qual entrei completamente 'normal', e saí já vestida adequadamente. Entrou a Rita e saiu a mendiga.
Não fazia ideia do que ia acontecer, mas já lá estava, então meti-me a caminho, à procura do meu canto, com elas sempre por perto.
Sentei-me ao pé de uma esplanada, na rua Augusta, com um ar assustado e perdido, porque no fundo era mesmo isso que eu estava.
Eram imensas as pessoas que por ali passavam. Olhavam e algumas até paravam, mas não senti olhares de indiferença, senti olhares de pena, pelo facto de ser tão novinha e já andar a mendigar.
Sempre de cabeça pousada nas pernas e mão na cara, temia o mais desconhecido.
Passaram-se alguns minutos, em que as pessoas limitavam-se a olhar, mas o imprevisto menos planeado aconteceu. Dirigiu-se a mim um senhor que tinha parado num quiosque relativamente perto.
Preocupado fez-me algumas perguntas às quais eu respondia, tremendo descontroladamente, apenas com a cabeça. Queria saber como tinha ido ali parar, se tinha fugido de casa e se tinha amigos ou família, tive de conter algumas respostas, porque não optei sequer por falar, e a última coisa que tentou saber foi se eu estava, e ficava bem e se ele se podia ir embora. Eu respondi, de imediato, que sim. Só queria que aquela tentativa de diálogo acabasse.
Eu pedia-lhes discretamente uma pausa, porque não estava minimamente preparada para o sucedido. E comecei a andar, mais à frente para não ser vista com elas, até uma rua paralela para podermos conversar. Elas confessaram que de certa maneira também se assustaram. Mas perguntaram se eu sentia que conseguia continuar, eu disse que conseguia, mas não por muito mais tempo.
Voltámos a andar separadas e eu acabei por me sentar à frente de uma montra velha mas bastante visivel.
Nem 10 minutos passaram e voltaram a abordar-me. Um empregado, de um restaurante próximo ofereceu-me um bolo. Mesmo recusando, ele deixou-o lá, insistindo que ficasse com ele, e foi-se embora.
Como referi os olhares não eram minimamente indiferentes, o que me intimidava era o facto do sentimento de pena predominar visivelmente.
Depois de algum tempo a ser constantemente observada, mudei de sitio já com o objectivo de conseguir tirar só mais algumas fotografias. Depois voltei a mudar de roupa, terminando assim o primeiro dia de mendiga, e conseguindo atingir os primeiros objectivos.
Elas chegaram, com as máquinas prontas, para fazer a reportagem fotográfica ao acontecimento, e eu...Eu sentia-me como nunca, numa tentativa de me mentalizar rapidamente daquilo por que ia passar, porque de facto ia mesmo acontecer.
Uma experiência inigualável, pela qual jamais pensei que alguma vez poderia vir a passar.
Dirigi-me a um café no qual entrei completamente 'normal', e saí já vestida adequadamente. Entrou a Rita e saiu a mendiga.
Não fazia ideia do que ia acontecer, mas já lá estava, então meti-me a caminho, à procura do meu canto, com elas sempre por perto.
Sentei-me ao pé de uma esplanada, na rua Augusta, com um ar assustado e perdido, porque no fundo era mesmo isso que eu estava.
Eram imensas as pessoas que por ali passavam. Olhavam e algumas até paravam, mas não senti olhares de indiferença, senti olhares de pena, pelo facto de ser tão novinha e já andar a mendigar.
Sempre de cabeça pousada nas pernas e mão na cara, temia o mais desconhecido.
Passaram-se alguns minutos, em que as pessoas limitavam-se a olhar, mas o imprevisto menos planeado aconteceu. Dirigiu-se a mim um senhor que tinha parado num quiosque relativamente perto.
Preocupado fez-me algumas perguntas às quais eu respondia, tremendo descontroladamente, apenas com a cabeça. Queria saber como tinha ido ali parar, se tinha fugido de casa e se tinha amigos ou família, tive de conter algumas respostas, porque não optei sequer por falar, e a última coisa que tentou saber foi se eu estava, e ficava bem e se ele se podia ir embora. Eu respondi, de imediato, que sim. Só queria que aquela tentativa de diálogo acabasse.
Eu pedia-lhes discretamente uma pausa, porque não estava minimamente preparada para o sucedido. E comecei a andar, mais à frente para não ser vista com elas, até uma rua paralela para podermos conversar. Elas confessaram que de certa maneira também se assustaram. Mas perguntaram se eu sentia que conseguia continuar, eu disse que conseguia, mas não por muito mais tempo.
Voltámos a andar separadas e eu acabei por me sentar à frente de uma montra velha mas bastante visivel.
Nem 10 minutos passaram e voltaram a abordar-me. Um empregado, de um restaurante próximo ofereceu-me um bolo. Mesmo recusando, ele deixou-o lá, insistindo que ficasse com ele, e foi-se embora.
Como referi os olhares não eram minimamente indiferentes, o que me intimidava era o facto do sentimento de pena predominar visivelmente.
Depois de algum tempo a ser constantemente observada, mudei de sitio já com o objectivo de conseguir tirar só mais algumas fotografias. Depois voltei a mudar de roupa, terminando assim o primeiro dia de mendiga, e conseguindo atingir os primeiros objectivos.
O projecto
Foi-nos proposto um projecto baseado no ano internacional contra a pobreza. Ao qual reagimos logo com grande entusiasmo.
Os dias iam passando, e a inscrição no concurso estava cada vez mais próxima. Mas as ideias...essas não surgiam.
Numa tarde, quando menos esperávamos e já desesperávamos, finalmente surgiu-nos A ideia.
Uma ideia um quanto diferente e bastante original. Na qual tínhamos como objectivo sentir emocionalmente, e fisicamente a experiência de passar 10 dias como mendigas na capital portuguesa.
A ideia foi muito bem recebida e decidimos ir em frente.
Neste blogue vamos apresentar não só os relatos dos nossos dias, bem como alguns dados sobre esta realidade.
Este projecto foi criado pela Universidade Católica Portuguesa em colaboração com a Fundação Montepio. Para que tudo seja realmente bom, precisamos da ajuda de todos aqueles que queiram ajudar. COMO? Comentando e divulgando este blogue.
Desde já... OBRIGADA!
as mendigas...
Os dias iam passando, e a inscrição no concurso estava cada vez mais próxima. Mas as ideias...essas não surgiam.
Numa tarde, quando menos esperávamos e já desesperávamos, finalmente surgiu-nos A ideia.
Uma ideia um quanto diferente e bastante original. Na qual tínhamos como objectivo sentir emocionalmente, e fisicamente a experiência de passar 10 dias como mendigas na capital portuguesa.
A ideia foi muito bem recebida e decidimos ir em frente.
Neste blogue vamos apresentar não só os relatos dos nossos dias, bem como alguns dados sobre esta realidade.
Este projecto foi criado pela Universidade Católica Portuguesa em colaboração com a Fundação Montepio. Para que tudo seja realmente bom, precisamos da ajuda de todos aqueles que queiram ajudar. COMO? Comentando e divulgando este blogue.
Desde já... OBRIGADA!
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