sexta-feira, 2 de julho de 2010

2º dia... mendiga Rita B.

E como explicar o que se passou hoje? A experiência de entrar nos armazéns do chiado na pele de Rita e sair numa pele abandonada e assustada de mendiga foi aterradora. Faltam sem dúvida as palavras!
Saí à rua, e para começar, dirigi-me à rua Augusta talvez por ser mais perto ou por ser das ruas mais badaladas da Baixa... Os olhares eram constantes, a preocupação e a pena predominavam. Só me perguntava o quão chocante seria a minha imagem naquele momento...
Decidimos mudar de local, voltei a sentar-me no chão e apanhei o meu primeiro susto: caras conhecidas.  O medo apoderou-se imediatamente, apertei as pernas, tentei esconder-me e nem passados dez minutos tenho turistas à minha volta a perguntar-me se estava bem. Da maneira que estava a minha primeira reacção foi fingir não entender a língua... Só os queria fora dali, a sua preocupação estava a destruir a máscara que coloquei assim que me vesti.
Acabaram por ir embora mas as emoções eram muitas e mais fortes que eu, pelo que se deu uma escapatória infinita de lágrimas. Nem mais um momento! Fui obrigada a retirar-me para uma ruela menos movimentada para respirar e acalmar-me, não havia maneira de elas me deixarem na rua novamente!
Mal me acalmei demonstrei logo vontade de continuar com o projecto e fomos até ao Terreiro do Paço. O ambiente é totalmente diferente, muito mais calmo, menos povoado, pelo que me foi mais fácil de permanecer por ali... Mas chegou a hora de mais uma vez mudarmos de local.
Desta vez escolhi a Praça da Figueira, estava com vontade de continuar, queria mais... Parei mesmo em frente aos bancos onde toda a gente pára por aquela hora. Ali sim tudo à minha volta era pesado e assustador.
Os comerciantes olhavam e comentavam, as pessoas na rua cochichavam acerca da minha idade e do meu estado, perguntava-me se estava bem e insistiam em ligar para os meus pais... Só dizia que não, acenava apenas, novamente faltavam as palavras...
E mesmo no final, ao dirigir-me até aos Armazéns para ir buscar a Rita outra vez, passei por caras mesmo conhecidas... O coração falhou uma batida ao ver que me olhavam, sem se aperceberem de quem era!
Desde a conversa com os turistas que as minhas emoções ficaram balançadas, e mesmo após voltar a ser a Rita, a mania da perseguição apoderou-se...
Agora só com o tempo.

4 comentários:

  1. Felizmente que na vida podemos sempre ser quem quisermos, quem escolhermos ser.
    Até logo!
    Mãe

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  2. apos ter lido os vossos posts todos confesso que quase fiquei em lagrimas. parece ter sido uma experiencia bastante forte e cheia de emoçoes para cada uma e nem eu mesma sei se conseguiria fazer algo assim.
    Parabens a todas e boa sorte com o projecto

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  3. Gosto muito do vosso trabalho!
    Parabéns :]

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