quarta-feira, 7 de julho de 2010

5ºdia... mendiga Ana

Mais um dia que começa, a continuação do projecto e o meu primeiro dia como mendiga.Chego à Baixa Chiado um pouco depois da hora combinada, as minhas colegas não estavam no sítio combinado, mando mensagem a uma delas e só me respondem para ir ter à porta do local onde deixamos de ser nós próprias e passamos a ser as mendigas, os armazéns.
Encontramos-nos e lá vou eu…  Adaptar a minha personalidade e o meu visual a outra pessoa que não eu. Saio já pronta para encontrar o meu canto, o local onde eu me pudesse sentar e viver a vida na pele de um mendigo.
Saio dos armazéns e começo a descer a rua sem saber para onde ir, como se estivesse perdida, no fundo era como me sentia. Olhava para trás, para elas, para estar mais confiante mas sempre com muito medo.
 Ao fundo da rua junto de umas montras encosto-me e sento-me no chão. Começo a sentir olhares de todos os tipos, como pena, indiferença, medo e caridade.
 Durante todo este tempo que estive lá sentada, pensei em muitas coisas, como várias experiências de vida porque passei e outras que nunca gostaria de passar, pensamos que por vezes o mundo vai acabar por uma simples dificuldade mas quando passamos realmente dificuldades como uma simples hora como mendigo, aí sim percebemos que infelizmente existem pessoas muito pior que nós.
Ouvimos muitos comentários de adolescentes como de adultos como: “não deve ter calçado”;  “coitada”; Mas que não são capazes de questionar “queres ajuda?”. Felizmente ainda existem pessoas com sensibilidade e caridade.
Dirigiu-se a mim um senhor e perguntou: “Estás bem? Queres falar? Precisas de alguma coisa? Eu sou o padre Paulo” e o melhor foi: “Precisas desabafar?”. Só fui capaz de acenar com a cabeça sim ou não, mas sempre escondendo a cara com os cabelos ou no colo, com os braços…
A polícia e os outros mendigos são outro susto para mim… Intimidam-me!
Finalmente o meu dia acabou, correu tudo bem. Foi complicado, chegar aos armazéns voltar a ser a Ana e sentir ainda os olhares e o medo. Mas como primeiro dia gostei…

2 comentários:

  1. Felizmente há pessoas sensiveis que se preocupam com os outros, como foi o caso desse padre.
    Nem sempre somos religiosos, mas o que importa é o que vai no coração... nesse coração vai o gosto de ajudar o proximo...
    Era bom que fossemos todos assim... o mundo não era igual!

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  2. A maior causa da indiferença e do desprezo é o medo do desconhecido e talvez o medo de tal realidade tão cruel possa um dia ser a nossa! Felizmente, temos pessoas como vocês e com certeza muitos mais cidadãos que tentam fazer deste mundo, um mundo melhor! Força!

    P.S - Já divulguei no meu blogue

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